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domingo, 22 de maio de 2011

O bistrô da gastronomia e a paciência



Eu tenho o imenso des prazer de estudar ao lado do prédio do Curso de Gastronomia da faculdade, um dos mais renomados do país, de onde vêm conceituados chefs que preparam pratos que você olha e diz "Oh" mas não é um "oh" de espanto e admiração pela delícia que postada está ali, é um "oh" porque você não imagina como uma quantidade tão pequena de comida vai satisfazer seu estômago acostumado ao imenso bufê-a-quilo do RU. Não tenho uma opinião formada sobre o assunto, gosto das fritas do seu Max com peixe grelhado e coca- zero, mas se um cavalheiro estilo G. Clooney (grisalho e barba mal-feita) me convidar para tomar um bom vinho no deck, degustando lagostas (haha), talvez eu reconsidere o PF.

Brincadeiras à parte, sabemos que o minúsculo montículo enfeitado com manjericão, muitas vezes é só parte do banquete, e que o máximo que estive perto de um grisalho estilo Clooney foi...bem, deixa pra lá. Quero falar sobre a comida. Foi num destes dias que as explicações sobre os intrincados sistemas neurofisiológicos, foram aos poucos substituídas em meu cérebro pelo cheiro de salmão defumado que adentrou a sala e fez meus sentidos devanearam de vez. Não era fome, risos.

Aquele prato que estava sendo preparado, devia ter todo um ritual característico antes de finalmente salivar e encher a boca do felizardo que iria degustá-lo (Rubem Alves tem um texto ótimo sobre o assunto).Tenho amigos que cozinham muito bem, que contam sobre determinados tipos de carnes e peixes que precisam ficar até 48hs sendo marinados. Fico pensando: porque? não é mais rápido assar, cozinhar e colocar uns temperos tipo ajinomoto? Dizem eles: - Mas e aí qual seria a graça? E o sabor, e o prazer de olhar para o outro comer e tentar decifrar virando os olhos para cima e imaginando, qual é o segredo? E a sensação de mastigar algo que é tenro e ao mesmo tempo saboroso?

Aí eu sorrio e penso: o segredo. Eis o grande enigma que não decifrei. Nos apaixonamos muito rápido , fazemos planos muito rápido, queremos uma promoção no trabalho muito rápido, deixamos a vida passar muito rápido. Debruçar-se sobre o tempo é coisa que não temos tempo. Cultivar palavras e sorrisos é demorado demais. Queremos o ontem enterrado e o amanhã nas mãos.

E nos alimentamos de restos, sentimentos requentados, de esperanças frustradas, de situações que nunca vão acontecer, porque o cozimento foi rápido demais, não foi respeitado o tempo, ignoramos e pulamos as etapas necessárias ao preparo de um afeto, uma carreira, um sonho.  

Da janela da sala olhei o céu que já escuro deixava uma fumaça fina imaginária trazer até mim agora um cheiro doce. Cheiro de algo que não consegui identificar; e me senti profundamente tentada a respirar fundo aquele aroma, inspirar paciência, pensando que mesmo que me falte o ingrediente, ela possa assim aos poucos, devagar, me convencer, entrar em mim...

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