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sexta-feira, 22 de abril de 2011

A dor maior


 
Nascemos pela dor, e com ela caminhamos indefinidamente até que a dor seja extinta, e com isso vire morte. Viver, sinônimo de dor, quem não dói, por certo nunca existiu. 

A conseqüência do bem e do mal. “E no dia que provardes desse fruto, certamente morrereis”, pela dor de tua culpa. Pisarás em cardos e espinhos, e eles machucarão teus pés, com dores conceberás filho, e lembrarás do que és feito. 

Andarias então anos a fio em desertos, padecendo em terras estrangeiras, e de dor imensa teu coração se encheria enquanto tua prole morria pelo caminho, a poeira das areias tórridas soterrando teus sonhos de terra prometida, que dificilmente alcançarias. Viste tuas mulheres em mãos que não as tuas, e os homens derrubaram os muros de tuas casas, teus altares, teus lugares sagrados.

Mas seguiste em frente, pois sabias que essa dor te acompanharia desde o momento que a sentiu bem leve, quando tua consciência começou a latejar. E se esses reveses não acontecessem, com que sairias forjado, moldado para chegares até aqui e contar estas historias, dessas andanças, de tanta solidão doída e constante. 

E então houve a possibilidade repentina da cura, do remédio que ninguém ouvira falar dantes, mas que há muito fora anunciado: o paliativo para a dor que já não seria sua, mas de toda humanidade. E a dor, e todo mal que ela causava pousou sobre os ombros de um que era homem de dores, experimentado em trabalhos, mas que não vislumbrava o tamanho da dor que sentiria ao assumir assim, todas as chagas dos doentes que se arrastavam em sua miséria.

Ele compadeceu-se, e o sacrifício que fizeste para te livrar dela, já não era mais necessário. Tuas tolas e burocráticas ofertas, que no afã de aliviares teus sofrimentos, oferecias não a um, mas a muitos deuses tornaram-se dispensáveis.

E a cruz expôs a dor, a de todos que já sangravam e nem percebiam, mas o sangue que corria, era o dele, e era tanto sangue, e tanto amor, que a mistura de tudo confundiu até mesmo os algozes que subjugaram o que ofereceu-se em sacrifício para trocar a aflição pela liberdade.

De vez em quando ele se surpreende doendo, e então sente medo que a dor volte, mas o Homem que levou-a, sabendo disso, deixou aberto o caminho para que sempre que precisasse, recorresse ao tratamento.
Alguns ainda hoje insistem em barganhar, causar dor propositadamente para lhes vender o remédio. Não devemos aceitar, já que o preço pago foi de sangue, de vida, de amor.

* O texto já foi publicado em outro blog, o repensandodiferente, sendo esta a semana em que comemora-se a Páscoa, no mundo cristão, resolvi re-publicar.

2 comentários:

  1. elídia, este teu texto está soberbo!! independente de compreensões teológicas, ele nos aponta que a dor que fere pode ser a dor que cura.

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  2. Oi Edu, ja estava c saudades, rs, abção.

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